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quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Das saudades que sentimos

Tem pessoas que já moraram em diferentes cidades. Uns mudaram mais, outros menos. Com bagagens e saudades diferentes, a história de cada um vai sendo moldada pelos cenários, personagens e vivências distintas. Recentemente passei por Juazeiro do Norte e em uma das corridas de Uber, a conversa breve com o motorista aflorou a reflexão sobre as saudades que sentimos dos lugares. Ele, morando na cidade há 6 meses por conta de uma transferência, disse: “logo volto para São Paulo. Sinto falta da chuva. Aqui não chove. Tenho que ficar aqui mais 6 meses”

Sua voz exalava uma saudade dolorida de sentir o cheiro do chão molhado, daquele som dos pingos no telhado ou do vento soprando umidade na janela. Imagino que sua saudade vai muito além da chuva e ao me despedir desejei de todo coração que o tempo corra rápido nesses 6 meses. Ele parecia angustiado com o calor. Eu sorri na porta do hotel, vendo o carro sumir pela rua, lembrando do livro Redemoinho em Dia Quente de Jarid Arraes, uma das minhas melhores leituras de 2019. Sim os dias fervem no sertão do Cariri. E a fervura desperta angústia. No caso do personagem que cito aqui, ferve um caldo de saudade em seus poros e memórias.

Entrei no hotel buscando o frescor do ar condicionado do quarto e pensando na conversa recordei de como minha filha ama o som da chuva. Já no banho, pude sentir os pingos de lágrimas, dela e de casa, misturando com as águas do chuveiro. Quando cheguei, na última segunda a noite aqui em São Paulo, descendo no aeroporto de Congonhas, senti tanto acolhimento por chegar nessa cidade que amo. Os lugares que amamos habitam em nosso ser, onde quer que nossos passos andem.

Uma das ruas que passei em Juazeiro do Norte

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