Páginas

domingo, 26 de julho de 2020

Gratidão as minhas avós e meus avôs

Meu avô e minha avó paterna

Francisco Cordeiro. O Sr. Chico Cordeiro. Meu avô e padrinho
Tua pele negra, o cabelo preto escorrido, teu riso autêntico e tua generosidade, são marcas vivas em minha saudade. Teu humor refinado é uma dessas raridades que reverberam por gerações.

Maria Euthália de Araújo. Dona Cotinha. Minha avó e madrinha. Mãe a avó afetuosa. Carrego comigo a força do teu abraço acolhedor. Dizem que tenho seus traços no corpo e jeito. Que honra ter a presença da pequena notável Dona Cotinha em meus passos.


Minha avó e avô materno

O Senhor Enoque. Sentado, contemplando o horizonte com seu olhar sonhador. Seu sorriso largo como o céu do sertão exalava a graça do seu coração bondoso. O homem mais simples e sensível que conheci. Gratidão meu eterno vozinho.

A Senhora Fortaleza, tem Maria no nome e a Fé como marca. A força de suas orações nos acompanha. Dona de uma memória espetacular, sua bravura carinhosa nos ensinou a reconhecer o amor em diferentes retratos. Preciosa vozinha, seu legado é um tesouro.

sábado, 11 de julho de 2020

As bisavós e bisavôs que conheci

Bruna está enviando várias perguntas para registrar em um livro de memórias para Peaches, minha neta. Uma iniciativa excelente que me faz agradecer pelas muitas recordações que tenho da grande família que pertenço: Cordeiro, Neto, Araújo, Sá, Nascimento. São alguns sobrenomes da minha linhagem presente nos nomes das minhas bisavós, avós e pais.

Tenho sorte de ter conhecido na infância bisavós e bisavôs e guardar na minha memória e DNA seus traços e histórias. E também de ter tido o privilégio de ter convivido com meus avós e avôs. Sinto muita gratidão por esse legado que agora tenho a oportunidade de repassar para minha filha Bruna.

Por parte de mãe, como falamos no sertão, conheci 2 bisavós e 1 bisavô:
O pai e a mãe da minha vozinha que hoje tem 95 anos. Vô do Ingá e Vó da Ingá, assim eu os chamava, uma referência ao sítio onde moravam que tem a serra no cenário.

Do meu bisavô Manoel Neto, lembro dele sentado no alpendre recitando versos. E também dele trajado em cima do seu cavalo, com sua vestimenta de vaqueiro para ir na Missa em homenagem a Raimundo Jacó. Um evento que reúne vaqueiros nordestinos de várias cidades que vão a Serrita no mês de julho. O vaqueiro Manoel Neto era figura marcante na Missa.

A esposa do meu bisavô Manoel Neto se chamava Maria Aurora Neto, um nome que amo. Sempre que ouço e falo o nome dela lembro da claridade do amanhecer no sertão. Ela era miúda e tinha uma leveza grandiosa no seu sorriso.

A mãe de vozinho se chamava Maria Carmina do Nascimento. Lembro dela em Trindade, até da rua onde morava. Quando voltava da escola passava em sua casa para pedir a benção. Ela era pequena, com sua pele branca avermelhada do sol.

Já das bandas de pai, também é uma tríade, 1 bisavô e 2 bisavós:
A mãe e o pai da minha avó e madrinha Cotinha. Vovó Iaiá e Vovô Vigário. Euthalia Maria de Araújo e Raimundo de Sá Araújo.

Vovó Iaiá pequena, com sua grandeza materna. Lembro muito dela. Meu avô e padrinho Chico, que tinha a graça como marca, perturbava a vovó Iaiá, dizendo que ela vendia até as cuias pra jogar no bicho. Ela sorria com suas brincadeiras. Minha avó e madrinha, tem o nome dela trocado. Maria Euthália.

O Vovô Vigário tinha uns causos bem divertidos e aumentados. Quando eu ia em sua casa pedir a bênção, ele dizia o nome de umas 10 bisnetas até acertar o meu. Eu pensava: está caducando. Ele ficou viúvo e casou com a Santina. Nunca vou esquecer do jeito engraçado deles andando na rua.

Tenho uma recordação muito viva da minha bisavó Cota. A mãe do meu avô e padrinho Chico. Lembro dela se balançando na rede. Como ela já não enxergava, ficava sentada na porta de casa pedindo brasa pra acender o cachimbo. Ela morava no sítio, numa casa perto de onde morei também. Uma figura forte na minha memória, minha bisavó Maria Cordeiro.

Todas as minhas bisavós e avós tem Maria no nome. Sou muita grata pelas Marias que somos!

Foto de Vovó Iaiá e Vovô Vigário com parte dos filhos e filhas (meus tios e tias avós)

domingo, 28 de junho de 2020

O significado do meu nome

Esse mês minha primogênita Bruna começou a fazer perguntas para anotar em um livro registro que vai ficar para Peaches, sua filha, minha neta. Eu sou a primeira filha, primeira neta. A Bruna a primeira bisneta e a Peaches a tataraneta, que foi nascer a milhas de distâncias daqui.. É uma geração de mulheres. Esses laços tem muita história entrelaçada.

Parabenizei Bruna pela iniciativa excelente que me fez refletir sobre o quanto sei e o muito que não sei da história dos meus pais e avós. Estamos no começo e já fizemos descobertas interessantes. Aliás, as perguntas que retransmito para minha mãe rendem boas gargalhadas. E já tive que recorrer a minha vozinha para saber a resposta de uma. E fiquei bem emocionada em saber sobre a escolha do meu nome.

Ao perguntar a minha mãe sobre quem escolheu meu nome e se tinha um significado ela me respondeu que tinha sido minha avó e que eu a perguntasse que ela saberia responder melhor. Eu já imaginava o motivo do Maria. Sim, a maioria me chama apenas por Ivone, mas eu tenho o Maria na inicial e aprecio muito. Disquei o DDD 87 em busca da resposta. Minha tia atendeu e eu expliquei que Bruna estava perguntando e anotando as respostas em um livro de memória para Peaches ler no futuro e conhecer detalhes de sua família.

Vozinha tem 95 anos e não gosta de falar ao telefone, está firme mesmo diante da fragilidade da idade. É tão lúcida e tem uma memória admirável. Minha tia que intermedia nossas conversas. Sim, eu sempre ligo para dar a bênção. Ela respondeu que sim tinha escolhido meu nome, Maria em louvor a Nossa Senhora. O segundo nome Ivone ela escolheu porque gostou do nome quando começou a pensar em algum para acompanhar o Maria. Tinha que ser com a inicial da letra I em homenagem a Iaiá, minha bisavó que eu conheci na infância e também a minha tataravó Isabel, a avó do meu vozinho.

Eu te agradeço minha vozinha pela escolha. Tenho muito orgulho do meu nome, do seu significado e do quanto as minhas ancestrais seguem presente na minha vida. Eu sou Maria Ivone e tenho uma trança de gente no meu DNA.


sábado, 16 de maio de 2020

O caçula presente


Quando o Henrique nasceu eu tinha 17 anos. O caçula paulista, o menino quieto, desde pequeno. O companheiro da Bruna, um tio-irmão. Sim eles cresceram juntos, estudaram na mesma escola. Ah seu kinder ovo semanal e sua revista do Recreio, os presentes semanais que eu trazia, são dessas lembranças afetivas da infância do tio Hique que guardo na memória coração.

Quando o Paulo estava estudando na África do Sul, teve uma briga com o Henrique na escola e ele recomendou do outro continente nossa cautela. Lembro até hoje do tom feroz e preocupado de sua voz quando me ligou para falarmos sobre o assunto. Ah afrontar o “Cidão” era mexer com muitos.

Lembro de sua primeira viagem com os amigos da escola para a praia quando tinha seus 16 anos. Eu e minha irmã Lane ficamos muito preocupadas. E quando ele nos contou que cortou a cabeça no ventilador de teto quase desmaiamos. Talvez nosso cuidado seja um tanto exagerado. Sempre foi assim, a comida do jeito que ele gosta que a mãe ou minha irmã preparavam com esmero (e continuam a fazer mesmo ele morando sozinho há alguns anos, as marmitas seguem).

O nosso ponto de amor caçula cresceu. É um pai precioso do nosso lindo João. Quando ele me disse que passou na USP com sua tímida alegria, meu coração quase explodiu de tanto orgulho. O menino das letras e traços. Nas linhas de seus desenhos, na composição de seus textos com capacidade crítica elevada, há uma teia de inteligência e criatividade que admiro.

Na quietude do seu silêncio e no seu olhar profundo eu enxergo um tesouro que sou incapaz de descrever em palavras, as letras escapam no pulsar do sentir. E sentir diz tudo. Como sou avessa a classificações para retratar pessoas ou situações, afinal, cada ser humano é ímpar por natureza, prefiro escolher a subjetividade de uma palavra que meu irmão Paulo utiliza para descrever o nosso caçula e também tudo aquilo que é raro e tocante: sensacional Henrique!

sábado, 28 de março de 2020

Minha senhora, Vozinha

Dia 28/03 é seu aniversário. 95 anos. Nossa quanta vida! Ela é a última aniversariante do mês. De sua linhagem nasceram muitos em março, mistura de água e fogo. A mãe, a avó, bisavó e tataravó. Sim, ela viveu para conhecer, ainda que por foto e vídeo, a sua tataraneta Peaches, que nasceu tão distante e, ainda assim, tão próxima em seu amor e orações.

Vozinha é nossa Fortaleza matriarca. Mulher de fé, de amor gigante e também brava quando tem de ser. Dizia vozinho que sua braveza era demais. Lembro tanto da nossa última gargalhada falando disso. Ele se foi há 2 anos e ficamos tão preocupados com a reação da vó. E ela segue nos surpreendendo, oh mulher valente!

A fragilidade do seu corpo contrasta com a força que emana de seu espírito. Sentada no seu canto do sofá, ela escuta a missa, a novena e com a bíblia na mão e as fotos dos seus reza todos os dias. É ali também que recebe suas visitas, conversa e sorri dos causos que escuta. A sua gargalhada é um desses sons que habitam em minha memória. É de uma alegria tão original que todo seu corpo sorri. É bonito de ver e sentir.

São muitas as lembranças de sua presença. Dos chás, do bolo, dela sentada perto da janela debulhando feijão, no alpendre na hora da chegada e da despedida e deitada em sua cama, no seu canto sagrado. Quando vou dormir, lembro tanto dos meus avós rezando o terço juntos. Ela segue rezando sozinha e com a presença atemporal do meu avô. Já fui lá duas vezes depois de sua partida e continuo a sentir a presença dele em cada canto da casa. Tantos anos juntos, é comum sentir esse laço permanente. Acredito que seguirei sentindo assim, todas as vezes que eu lá chegar.

Ela gosta de lenço na cabeça, de rosário, de vestido leve, de meias e até touca quando chega a friagem do inverno. Ela tem medo sim, dos trovões que sacodem o telhado. Ela é de contar pouco de sua vida. É uma ouvinte fiel. E tudo que fala tem sabedoria, simples e eficaz. É firme em suas convicções. Ela tem um baú de tesouros, coisas simples guardadas, como roupas de batismo dos seus. Ele é antigo, está lá desde que me entendo por gente. E um dia será meu e será o meu maior tesouro vivo.

Até onde eu me entender por gente, até o dia que a vida pulsar em meu coração, eu vou amar essa vozinha que me ensinou que no amor há uma mágica eterna. Te Amo!



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A infância do tio-irmão e da sobrinha

Eles têm uma diferença de 2 anos. Eu sou a mais velha, vi o Henrique caçula nascer no final do outono, quase inverno. Na passagem das estações. Logo casei e a Bruna, minha filha, nasceu. No outono, num dia de vento e céu azul, numa manhã de sábado. O Henrique próximo de completar 2 anos. Eles passaram a infância juntos. Cuidados por minha mãe e minha irmã Lane, mais ainda a Lane, mãe sempre trabalhou muito. E eu também. E continuamos trabalhando.

Bruna e Henrique estudaram na mesma escola, brincaram no mesmo quintal, no de casa e no da casa da mãe. Nessa época eles brincavam também na praça perto de casa e na rua. Quando eu dava um jeito de viajar, carregava o tio-irmão. Fomos para Ubatuba, Rio de Janeiro e Pernambuco. Nessa foto, eles estavam em Porto de Galinhas. Lembro como se fosse hoje do passeio de barco, no mergulho nas piscinas naturais, na Bruna pisando no ouriço do mar e deles brincando na piscina da pousada e areia da praia. Tenho em casa algumas fotos deles, daquelas que tirávamos na máquina de filme e ficávamos ansiosos para retirar a revelação.


O registro dessas memórias tem sabor de saudade. E eu tenho a sorte de ter tantas lembranças afetivas da minha infância e da deles que palpitam em meu coração.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O chá da memória saudade

Na casa de vozinha tem sempre chá. De folha de cana, camomila, erva cidreira, erva doce, hortelã, macela, alecrim, noz moscada e outras ervas de plantas e casca de pau de árvores do sertão. Tem sempre um chá para diferentes desconfortos e dores. O que acalma, que melhora a barriga e cólica, cura infecção e por aí vai. Quando vou lá sempre tomo o perfumado chá noturno e tenho um sono profundo depois de contemplar o céu estrelado que segue brilhante em meus sonhos.

Em casa também faço chá. Ontem à noite o cheiro de chá na cozinha chamou a atenção do Arthur: “mãe o que é esse cheiro bom?” Eu respondi: é o chá das avós. Ele diz: “é o chá das folhinhas que você pegou lá no jardim? Sim filho. No meu jardim tem erva cidreira e hortelã. No meu quintal tem alecrim. E sempre que que faço chá a presença das minhas avós está no aroma saudade. É memória viva.


o aroma do chá das memórias afetivas

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

As orações de vozinha

Minha vozinha reza por todos os seus. Todos os dias. Pelos filhos, netos, bisnetos (as) e sua tataraneta. Para quem lhe pedir oração. É o terço. É a missa. É sua reza singular. Ao lado do altar tem sempre um ramo de plantas junto aos seus santos. 

Ela reza com as nossas fotos ou alguma coisa nossa. Um par de meia deixada pelo meu irmão em sua última visita, está com ela no momento em que ela reza por ele. Ele diz que as rezas dela já o abençoaram muito. E bem sabemos disso. O Paulo me disse que alguém precisa seguir as rezas de vozinha quando ela não estiver mais aqui. Eu digo que elas continuarão conosco por longas gerações, sem fronteiras no tempo. De tão sinceras, fortes e iluminadas por seu grandioso amor, elas têm essa atmosfera de eternidade. 


Com o bisneto Arthur, recebendo o carinho na hora do Sol matinal-Dez/2019

Eles sempre estiveram lá e eu sempre observo com devoção esse canto da casa

domingo, 19 de janeiro de 2020

O café, o pão e as memórias

O café da minha mãe é o melhor do mundo. É doce em muitos sentidos. Antes de sair para trabalhar, muito cedo, já sentia o cheiro do seu café, muitas vezes, ela cantava no pé do fogão. Se tem uma coisa que marca minha mãe é sua cantoria. Ela sempre gostou de cantar. Uma sintonia com sua risada, marca da Dona Fátima.

Morávamos numa casa bem pequena. Ela saia cedo para trabalhar e deixava pão para assar e bolachas para os 5 filhos. Quando voltava a tarde do expediente, ela já passava na padaria e trazia o pão quentinho. Sim, na casa de mãe, tínhamos dois cafés, o da manhã e o da tarde. Ponto de encontro na mesa da cozinha. Algumas vezes tínhamos companhia. Crescemos assim, com esse gosto por café e pão. Quando ela dobrava a esquina já sentíamos o cheiro do pão de sua presença. Que alegria quando mãe chegava com o pão quentinho, daqueles que quando passamos a manteiga derrete.

Eu continuo molhando o pão no café e as vezes no café com leite. No domingo quando estou em casa eu faço os dois cafés. Perto da hora do crepúsculo eu sento na janela, na companhia do meu marido que foi buscar o pão e saboreio o momento café da memória. Sempre lembro do café da tarde de mãe nessa hora. Meu marido termina rápido e eu fico sentada sozinha na cozinha, olhando a janela e sentindo o vento das lembranças vivas que afloram lágrimas e sorrisos. Hoje eu estive com ela e, claro, tomei seu café, o melhor do universo, um dos sabores melhores da minha vida. Eu seguirei amando o café, pão e presença generosa de minha sensacional mãe.



quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Das saudades que sentimos

Tem pessoas que já moraram em diferentes cidades. Uns mudaram mais, outros menos. Com bagagens e saudades diferentes, a história de cada um vai sendo moldada pelos cenários, personagens e vivências distintas. Recentemente passei por Juazeiro do Norte e em uma das corridas de Uber, a conversa breve com o motorista aflorou a reflexão sobre as saudades que sentimos dos lugares. Ele, morando na cidade há 6 meses por conta de uma transferência, disse: “logo volto para São Paulo. Sinto falta da chuva. Aqui não chove. Tenho que ficar aqui mais 6 meses”

Sua voz exalava uma saudade dolorida de sentir o cheiro do chão molhado, daquele som dos pingos no telhado ou do vento soprando umidade na janela. Imagino que sua saudade vai muito além da chuva e ao me despedir desejei de todo coração que o tempo corra rápido nesses 6 meses. Ele parecia angustiado com o calor. Eu sorri na porta do hotel, vendo o carro sumir pela rua, lembrando do livro Redemoinho em Dia Quente de Jarid Arraes, uma das minhas melhores leituras de 2019. Sim os dias fervem no sertão do Cariri. E a fervura desperta angústia. No caso do personagem que cito aqui, ferve um caldo de saudade em seus poros e memórias.

Entrei no hotel buscando o frescor do ar condicionado do quarto e pensando na conversa recordei de como minha filha ama o som da chuva. Já no banho, pude sentir os pingos de lágrimas, dela e de casa, misturando com as águas do chuveiro. Quando cheguei, na última segunda a noite aqui em São Paulo, descendo no aeroporto de Congonhas, senti tanto acolhimento por chegar nessa cidade que amo. Os lugares que amamos habitam em nosso ser, onde quer que nossos passos andem.

Uma das ruas que passei em Juazeiro do Norte

Sertão 2024

Cheguei em São Paulo quando eu tinha 14 anos. Lembro até hoje do frio que senti e do espanto com o céu todo branco acinzentado. Demorei muit...