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domingo, 25 de abril de 2021

O domingo de Oz as Palmas

Hoje fui na Feira da Analice, o pastel com caldo de cana é tradição na manhã de domingo. Comprei também a goma pra fazer a tapioca, o coentro, o feijão branquinho e dois que trouxe para fazer remédio, a salsinha que não gosto muito e o famoso mastruz que mãe tanto insiste para eu fazer. “E bom para toda inflamação.” Quando estávamos retornando, a nossa frente estava o ônibus Taboão São Judas. Eu disse ao meu marido:  quantas vezes eu peguei esse ônibus cedo no domingo para ir almoçar em Tia Coca? Durantes muitos anos, ele respondeu. Fizemos esse trajeto em muitos domingos no ônibus que atualmente é mais conhecido pelo número da linha.

No ponto da Avenida Padre Vicente Melillo, perto da igreja onde casei, era o ponto de partida. As vezes chegávamos ao ponto e logo vinha o azul intermunicipal, outras vezes a espera era de 30 minutos ou mais.  A Bruna e o Henrique adoravam ir no banco alto e ficavam vagueando os olhares curiosos pelas ruas do itinerário do 213. Descíamos na praça do Taboão e de lá seguíamos a pé até o Jardim das Palmas onde a tia morava. Quando avistávamos a padaria da esquina a euforia tomava conta dos passos das crianças, virando à esquerda e logo a direita para subir a ladeira o nosso destino ficava cada vez mais perto. Chegávamos lá com sede depois da caminhada, as crianças desciam as escadas correndo para encontrar os primos.

O coro de vozes alegres ecoava pela casa. Minha mãe logo começava a ajudar a tia com a comida na cozinha, a louça na pia. As crianças brincavam na sala. Sempre tinha muita risada e um cardápio cheio de afeto. No quintal tinha varal com muitas roupas estendidas, nas camas algumas já secas para dobrar. A lida da tia e da mãe, que trabalhavam fora e cuidavam da casa e filhos não foi tarefa fácil. Eu olhava aquela montanha de roupas e tinha vontade de chorar as vezes. Ficava imaginando como a tia conseguia dar conta de tudo e sempre estava sorrindo, com sua presteza em alimentar todos. E posso garantir que sua nutrição foi e continua sendo muito além do alimento servido a mesa com esmero e carinho.

A tia sempre gostou de receber e sua alegria com nossa presença seguia conosco no retorno pra casa. O mesmo percurso de volta, a caminhada até o Largo do Taboão, a espera no ponto do ônibus Osasco Centro. Subíamos apressados, as crianças até dormiam encostadas em nosso ombro, exaustas do passeio. As vezes já era noite quando chegávamos a Osasco para tomar banho, dormir e começar a semana com a doce memória do encontro do domingo aquecendo os corações.

Crédito da imagem: site O Taboanense

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