Páginas

sábado, 16 de maio de 2020

O caçula presente


Quando o Henrique nasceu eu tinha 17 anos. O caçula paulista, o menino quieto, desde pequeno. O companheiro da Bruna, um tio-irmão. Sim eles cresceram juntos, estudaram na mesma escola. Ah seu kinder ovo semanal e sua revista do Recreio, os presentes semanais que eu trazia, são dessas lembranças afetivas da infância do tio Hique que guardo na memória coração.

Quando o Paulo estava estudando na África do Sul, teve uma briga com o Henrique na escola e ele recomendou do outro continente nossa cautela. Lembro até hoje do tom feroz e preocupado de sua voz quando me ligou para falarmos sobre o assunto. Ah afrontar o “Cidão” era mexer com muitos.

Lembro de sua primeira viagem com os amigos da escola para a praia quando tinha seus 16 anos. Eu e minha irmã Lane ficamos muito preocupadas. E quando ele nos contou que cortou a cabeça no ventilador de teto quase desmaiamos. Talvez nosso cuidado seja um tanto exagerado. Sempre foi assim, a comida do jeito que ele gosta que a mãe ou minha irmã preparavam com esmero (e continuam a fazer mesmo ele morando sozinho há alguns anos, as marmitas seguem).

O nosso ponto de amor caçula cresceu. É um pai precioso do nosso lindo João. Quando ele me disse que passou na USP com sua tímida alegria, meu coração quase explodiu de tanto orgulho. O menino das letras e traços. Nas linhas de seus desenhos, na composição de seus textos com capacidade crítica elevada, há uma teia de inteligência e criatividade que admiro.

Na quietude do seu silêncio e no seu olhar profundo eu enxergo um tesouro que sou incapaz de descrever em palavras, as letras escapam no pulsar do sentir. E sentir diz tudo. Como sou avessa a classificações para retratar pessoas ou situações, afinal, cada ser humano é ímpar por natureza, prefiro escolher a subjetividade de uma palavra que meu irmão Paulo utiliza para descrever o nosso caçula e também tudo aquilo que é raro e tocante: sensacional Henrique!

Sertão 2024

Cheguei em São Paulo quando eu tinha 14 anos. Lembro até hoje do frio que senti e do espanto com o céu todo branco acinzentado. Demorei muit...