Fiquei 21 dias fora de casa. O maior período que me lembro. Foi uma viagem profunda e incrível. Por mais exausta que eu ainda esteja, faria tudo de novo e de novo. Dessa vez, para o mesmo destino no Hemisfério Norte, no verão. Já fui em 2019 no outono, na primavera de 2022 e agora no verão de 2023. A próxima será no inverno para completar o ciclo? Esse é o propósito para celebrar o Natal e completar a missão das estações.
Toda viagem tem um sentido espiritual e o quanto
aprendemos é o que de mais valioso trazemos na bagagem. Entre ir e voltar há
uma imensidão de vida pontuada pela saudade que segue latejando. Acordar lá e
lembrar daqui e vice e versa segue ecoando nos sonhos e na presença daquilo que
é perene na memória afetiva que tanto estimo. Os lugares que visitamos, de
certo modo fazem morada em nós, com mais ou menos intensidade. Tudo é muito
variável para cada pessoa, circunstância e encontro.
E por falar em encontro, ontem fui recebida pelo grupo de
amigos valiosos de longa data, dessa gente do meu agrado, no canto do churrasco
que é casa. Conversamos sobre alguns aspectos da viagem. Há muitas notas para
serem escritas e faladas. Ainda estou processando tanta coisa. Um amigo que eu amo
e que andava ausente esteve lá, ouvir dele esse mesmo sentimento e receber seu olhar
e abraço verdadeiro foi tão tocante. Ele falou que faz tempo que não recebe os
links dos meus Blogs, ando escrevendo menos, especialmente nos 3 últimos meses.
Durante a viagem eu escrevi, no caderno que lá ficou, mais de 50 páginas. Rabiscos
talvez ilegíveis para alguns. Minha letra é garranchada. Em cada palavra um
tanto de profundidade nas linhas e entrelinhas. Escrevi num dos cenários que
amo, ao lado da janela generosa, com vista para o jardim. De lá saltam aos
olhos as árvores rodeadas pelo arbusto que tem lindas flores roxas que
florescem brevemente na primavera, o banco com os dois vasos com flores
amarelas que plantei, a rua tranquila, os cincos pinheiros pequenos que
plantei, dois na viagem passada e outros três agora, a azaleia e mais duas plantas
que não sei o nome, também plantio de 2022. Como elas estarão no próximo
reencontro?
Voltamos pensando na nova ida sim. Do jardim avistamos a poltrona
azul que abracei e aconchegou meu corpo, eu escrevia e observava a manhã andar,
com o canto dos pássaros, a relva molhada, o vento maresia, a chuva em alguns dias,
o silêncio da casa e a escrita pontuada por sorrisos, orações e lágrimas. Eu
também deixei escrito um caderno em 2022 e seguirei o ritual nas próximas
viagens. Desses tesouros que sei ficará guardado na memória da passagem do
tempo.
Quando em solo paulista eu já estava, as páginas do
caderno foram lidas, entre lágrimas e a doce borboleta passeando entre elas,
consolando e suavizando as saudades, desses sinais que nos enlaçam. Sou a mãe
Maria, das duas meninas, minhas filhas distantes que habitam minha proximidade
sagrada. Seguiremos escrevendo os capítulos dos nossos laços. Tem muito amor
nesse enredo.