Desde pequena tenho encanto pelo entardecer. A despedida do dia, as sombras do cair da noite, aquela sensação de saudade do que foi e uma esperança do que virá na próxima alvorada. Os sinos tocavam na hora da Ave Maria, o silêncio noturno da oração e o convite ao recolhimento do sono e sonhos. Eu espiava demoradamente o céu estrelado do sertão para escolher a estrela sorriso mais brilhante e rezava. Dessas imaginações de menina ou, como alguns dizem, dessas loucuras que tive e tenho.
O “arrebol” cantado, contemplado e até os que se escondem
em dias cinzas aqui em São Paulo, é um chamado para uma pausa. Hoje acordei
recordando dias em que tive o privilégio de contemplar o entardecer no mar, um
canto sagrado. Sentada com os pés na areia, ouvindo o canto das ondas e as
cores alaranjadas tingindo o oceano. Um dos momentos de conexão que traz uma
leveza que flutua pelos sentidos, sempre.
As paisagens que atravessam anos com a beleza da lembrança sensorial
trazem esse aroma do presente. É como uma malha do tempo que segue viva, ainda
que ganhe novos significados, já que somos transformados a cada estação. A menina
do sertão, onde o poente, pela localização geográfica costuma acontecer na
mesma hora, continua vislumbrada pelo pôr do sol nos lugares onde estiver e nos que estarão no horizonte.
E qual a magia do crepúsculo? Tenho a sorte de conhecer muitos laços que apreciam o entardecer e sou presenteada muitos dias com fotos de cidades, do sertão e do mar: “lembrei de você ao olhar o céu” ou “essa paisagem é sua cara” ou ainda “você está aqui comigo.” É mesmo refinado aquilo que nos conecta, afinal, numa imagem reside a luminosidade do Sol afeto, esse que é capaz de tornar mágico nossos dias. Essa é a magia do sentir.
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