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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O Presente eterno

Houve um tempo que atuei em dois projetos de educação ambiental e formação de jovens em Osasco. Os encontros semanais aconteceram nas salas de dois parques municipais e em uma sala da igreja do bairro Santa Maria, que foi parceira do projeto. As aulas contaram com um conteúdo diversificado, dinâmicas, plantio de árvores, oficinas de fotografia, pesquisa e produção de texto para criação do jornal e com um passeio margeando o Rio Tietê. Um período de aprendizado fértil.

Ensinar e aprender são verbos ações interligados que marcam vidas. Em outubro comemoramos no dia 15/10 o dia do Professor, é uma data que sempre me emociona. Sou muito grata por todos os professores que cruzaram meu caminho e pela oportunidade de ter atuado como educadora nos projetos citados acima. Foram dois semestres intensos cujos frutos continuam ecoando em minha memória afetiva.

A despedida de cada ano letivo, as mudanças de turma, uns que migram para outras cidades, a conclusão das etapas e os variados desafios da jornada estudantil são vivências que se multiplicam no laboratório de experiências. Como aluna eu me senti acolhida por diversos professores que me abraçaram com afeto e me motivaram a seguir. Desde a infância até a faculdade, encontrei mestres na arte de transformar vidas. É um caminho árduo e incrível.

Mulher de reza que sou, sigo rezando por um menino aluno que me presenteou com a demonstração de amor mais profunda que recebi. Durante uma atividade do roteiro, incentivei a turma a usar a imaginação para criar um produto, serviço, objeto artístico, em letras, imagens ou a representação que eles desejassem, permitindo que eles tivessem a liberdade de criar a partir de suas percepções do outro. Como já fazia um tempo que estimulávamos o diálogo e a proximidade deles, já havia um ambiente de partilha. Sorteio das duplas, material a disposição, risadas, conversas, silêncio e o tempo para a solução.

Foram 8 duplas nas apresentações mais generosas que vivenciei. O aluno que fez dupla comigo, pediu para sermos a última dupla e assim encerramos. Foi muito divertido ver a criatividade aflorada e a leitura refinada de cada dupla. Aquilo que o outro enxerga de você e é capaz de criar a partir disso é enriquecedor. Foi a lição que ficou gravada dessa aula lúdica. Eu apresentei o aluno da minha dupla como o Anjo Sol semeador de esperança nas escolas. Eu ganhei uma faixa com estrelas douradas, virei uma estátua homenageada por ser campeã de uma constelação angelical. Tinha uma placa aos meus pés que dizia: não está à venda, preço incalculável.

Minha gratidão é eterna pelo melhor presente que já recebi.

Estas três coisas continuam para sempre: fé, esperança e amor.
E o maior deles é o amor." Coríntios 13:13.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Nossa matriarca Maria

Sempre senti as orações de vozinha cruzando as fronteiras e afagando meu coração em momentos difíceis. Quando vou até lá, observo com admiração seus rituais, a vela, a bíblia, a foto de um filho, neto, bisneto ou tataraneto. É uma escolha iluminada o personagem ou os personagens de cada dia. Nos últimos dias, em que ela não está conseguindo fazer suas rezas por conta do declínio da fraqueza e das dores que está sentindo...99 anos ... e nunca havia ficado acamada ...tenho eu rezado o Terço por ela aqui em casa, rogando intercessão por minha avó, nesse seu momento de fragilidade, que ainda assim, retrata sua fortaleza de seguir respirando e de me responder, ainda que de olhos fechados, na chamada de vídeo: Deus te Abençoe.

Muita gente pensa que o nome de minha avó é Joana. Todos a chamam de Joaninha. Um apelido carinhoso e ela é Sim tão linda quanto as graciosas joanas que voam pelos jardins do mundo. Seu nome é Maria, seu sobrenome é Neto e no meio tem o composto Anunciação. Ela veio mesmo para anunciar ao mundo uma força que inspira os passos dos Netos de sua geração. Filha de Aurora e Manoel Neto, meus bisavós, que tive a honra de conhecer. Uma Senhora Fortaleza de 99 anos e 6 meses, tataravó dos filhos da sua primeira bisneta, netos da sua primeira neta, eu também Maria.

Em maio deste ano, presenciei sua alegria ao conhecer seus tataranetos Peaches e Damian, rever sua bisneta Bruna e sua fala me agradecendo por cumprir essa missão seguirá ecoando em meu espírito. Sou muito grata pela vida da Maria da Anunciação Neto, pela multiplicação do amor que ela plantou em nossa família e nos amigos, pelo legado de bondade e oração que ela cultivou em todos os seus dias. Sua lucidez é encantadora. Sua história é pontuada pelos desafios que permeiam a vida de tantos sertanejos. Tão acolhedora, generosa e sensata, seus ensinamentos permanecerão entre nós. Ela que tem uma memória admirável continuará em nossas memórias como exemplo de fé, devoção e amor.

Todas as vezes que eu chego no sertão, abro a porteira e contemplo o alpendre, sinto tanta paz com o acolhimento da casa que me abraça e recebe com afeto. A luz matinal reflete nas paredes, o sorriso de vozinho ecoa no horizonte e os sons familiares do fogão a lenha, das vozes, dos pássaros e do canto da roça enternecem minha audição. Como uma canção de ninar que embala o sono. Continuarei sentindo sua presença e pedindo sua Benção, enquanto o som dos ventos tocarem meus sentidos. Que eu tenha a graça de viver um tempo fértil para seguir cultivando o que sei e sinto de tua história.Que assim seja. Amém!

Vida abençoada pela Fé
Oração que protege
Zelo admirável pela família
Iluminação da casa
Nutrição ancestral
Honra e legado sagrado
Amor multiplicado

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Roda do oráculo do samba

Estamos em 2024, há 35 anos estou em Osasco e foi nessa cidade que conheci o samba, em um churrasco, em uma das casas de aluguel que nossa família morou. O ritmo contagiou minha alma e desde então sigo apaixonada. Em 2023, resolvi fazer uma roda de samba com os amigos pais, um presente do Dia dos Pais. Foi sensacional. Em 2024 repetimos a dose neste último sábado 10/08/24. Vamos fazer do encontro uma tradição que nos enlaça.

O repertório rico em canções da “velha guarda”, do ontem, do hoje e de sempre, do samba e pagode. Martinho, Zeca, Fundo de Quintal, Raça Negra, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Xande, a madrinha Beth Carvalho e tantos outros que marcam nossas vidas. Paulinho da Viola, Cartola, Clara Nunes, Noel Rosa, Pixinguinha, Dona Ivone Lara, salve os mestres atemporais que seguem vivos na memória musical.

Dizem que o samba pede passagem, nessa casa que sou, ele tem janelas e portas abertas para chegar e me curar com a alegria que gira em meus poros. E que bênção ter nessa roda os amigos que dançam, cantam até perder a voz e fazem desse momento um marco de nossas histórias. Um deles é especial, o carioca Renato que nos encanta com a felicidade rara que ele emana. Que conexão mágica do nosso amigo que chamamos de “oráculo do samba.”

Gratidão universo por mais uma roda de samba e uma rodada de cura. Até 2025.
Gratidão Celinho e Renato. Viva o Samba!

“Canta canta, minha gente
Deixa a tristeza pra lá
Canta forte, canta alto
Que a vida vai melhorar...”

terça-feira, 23 de julho de 2024

Homenagem bisavô

Minha prima Pérpetua, que mora em Petrolina, veio passar uns dias de férias em São Paulo e visitou o renomado restaurante de comida sertaneja na Vila Medeiros. E que surpresa emocionante ela encontrou no Restaurante Mocotó do Rodrigo. Uma foto do seu Tio Manoel Neto, que também é meu bisavô, pai da minha Vozinha que tem 99 anos. Tive o privilégio de conhecer meu bisavô e bisavó Aurora.

A mesma foto desse sertanejo, que carrego o sobrenome, está enfeitando também um Museu em Recife e outros cenários que homenageiam os vaqueiros de Serrita. Meu vô do Ingá, como eu o chamava, não perdia nenhuma missa dos vaqueiros, era personagem simples e ilustre desse evento importante do calendário regional de Pernambuco.

Ah e Ingá é uma referência ao nome do sítio que ele morava e que ainda hoje é morada de muitos Netos. Quando menina, eu saia de Araripina, onde meus pais moravam, e ia passar férias na roça, na casa dos meus avós, que ficava perto da casa dos meus bisavós. Eu os encontrava no alpendre da casa. Quantas memórias afetivas afloradas com essa imagem.

Se eu já tinha vontade de conhecer o Mocotó, agora sim já está na minha lista de prioridades. Vou lá provar das delícias culinárias e ver de perto a foto do meu bisavô. Gratidão ao Sr. Manoel Neto que deixou um legado que segue vivo entre os seus descendentes. Muito obrigada ao Rodrigo por essa homenagem. Os retratos dos personagens do Sertão atravessam fronteiras. Minha gente, o Sertão é o Mundo!


Essa é a foto de Manoel Neto ilustrando a parede do Restaurante Mocotó


Essa foto é do casal Neto, Manoel e Aurora, que enfeita a parede da sala de vozinha, sua filha que segue firme aos 99 anos. A tataravó dos meus netos. Que bênção!

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Encontro ancestral

Quais memórias levamos de uma viagem? Quanta bagagem afetiva vem em nossa mala coração? Nesses poucos dias no sertão nos conectamos de forma mágica com os nossos cenários e família. Amor cultivado que segue reverberando nas lembranças e entranhados em nossa pele saudade.

Dos princípios que pratico, a valorização das minhas raízes e dos meus ancestrais, é um deles. Sempre procuro ensinar para meus filhos e, agora, também aos netos, a importância de valorizar as histórias e pessoas que amamos e reconhecer que somos parte de uma trança de gente. Apesar de ser de uma família onde em parte dela habita o silêncio, tenho a honra de conhecer nuances da vida dos meus bisavós, avós e pais.

Depois de 8 anos longe, minha filha retornou ao Brasil para nos visitar. Desde que ela programou a viagem, o primeiro pedido dela foi levar seus filhos para conhecer a tataravó. Nasci no sertão de Pernambuco, minha primogênita em Osasco São Paulo e meus netos nasceram nos Estados Unidos. Minha avó tem 99 anos, bisavó da Bruna e tataravó de Peaches e Damian. Indizível a imensidão de sua alegria ao conhecer os tataranetos. Cenas ímpares que ficarão gravadas em meu livro coração. Que encontro presente!

Foram 2 meses intensos deles aqui e a presença deles segue palpitando...no pincel colorido da Peaches, nos carrinhos do Damian, no cheiro da roupa da Bruna - que eu não vou lavar - no caderno que ela me presenteou que estou escrevendo minhas orações...nossa proximidade é sagrada e sempre será. O amor é a nossa força filha... é essa potência que nos encoraja a vencer as adversidades. Lembra dos cactos e do beija flor vozinho na chegada e também da tríade deles na despedida. Sinais dos laços que nos unem.

Das tantas emoções da viagem ao nosso sertão, Peaches rezando no túmulo de vozinho em nossa companhia, a oração do Santo Anjo que ele me ensinou, que eu ensinei para meus filhos e para os netos, foi sensacional. E por falar nele, que vive em nossos passos, o melhor homem que eu conheci na vida, eu escrevo a frase que ele te disse, da última vez que você esteve com ele: “segue seu coração e seja feliz”

Nas veredas do sertão, os passos das gerações. Gratidão Deus!

domingo, 28 de janeiro de 2024

Sertão 2024

Cheguei em São Paulo quando eu tinha 14 anos. Lembro até hoje do frio que senti e do espanto com o céu todo branco acinzentado. Demorei muito para visitar Pernambuco por falta de recursos. Meu avô paterno faleceu e até hoje recordo da dor rasgando meu peito com a notícia. Somente nos últimos 12 anos eu tenho conseguido ir com maior frequência e por conta do trabalho sempre vou, nas palavras de minha avó: “ligeira como relâmpago.” Dessa vez foi diferente, consegui ficar duas semanas.

Primeiro fui para Araripina, terra onde nasci. Na casa de meu pai que reside em Lagoa do Barro, palco de minha infância. Eu morei também em Trindade e alguns meses em Recife, mas foi nesse distrito que cresci e morei mais tempo. A igreja, a escola, a praça, as ruas, as roças, o açude, o riso, as delícias na mesa, os abraços e as memórias. Visitei minhas tias, primos e primas, e nem deu para ver todos, eita família grande.

De lá segui para Parnamirim e Serrita, terra da minha família materna. Minha vozinha está prestes a completar 99 anos. Que bênção escutar suas histórias, presenciar sua reza e seu amor exalando no respirar do seu cotidiano. A paz de sentar-se ao seu lado, observar sua oração fervorosa, ouvir sua voz e sentir seu cheiro. Trouxe na bagagem a força de sua presença.

Dessa vez tive a coragem de visitar o túmulo do meu Vozinho. O cemitério na caatinga, com a capela ao lado e a árvore na frente, com sombra generosa. Ao lado da sua cruz, coloquei flores amarelas que colhi fresca, acendi três velas e joguei a água benta que a vozinha pediu. Uma borboleta amarela bailava enquanto eu ia respingando a água sobre o chão do sertão. Ele está em Paz e segue iluminando meus passos com sua ternura.

Cactos, mandacaru, xique-xique, palma e as tantas plantas e árvores da caatinga descritas pelo meu tio Neto durante a trilha nas veredas. Que sertanejo! Os pássaros, os ninhos, as pedras pequenas, médias e grandes, a areia da estrada, os bichos, o açude, a serra e o cenário da terra dos meus ancestrais revelando a riqueza desse bioma ímpar.

O fogão a lenha, o cuscuz com feijão verde, a carne de bode torrada e assada na brasa, o baião de dois com nata, o bolo de caco, de milho, liso e fofo. A rapadura, os sucos naturais da tia, o umbu, o doce de leite, o chá noturno de erva doce com cana, a sopa, o pirão do tio Chico, a cajuína e a variedade de chás que eu trouxe da farmácia da feira. E ainda encontrei o rosário de catolé com coquinhos deliciosos.

Quanta partilha na viagem de férias pelo sertão. Quantas memórias cultivadas nas prosas do alpendre e cozinha. A luminosidade do amanhecer, o encantamento do entardecer e as estrelas cintilantes na noite de Lua Nova e Crescente. Dois ciclos lunares, duas semanas e muita vida. Na estrada da saudade eu sigo. Amo o lugar que moro. Nessa região metropolitana paulista que vivo carrego a fortaleza de Ser Sertão.

Igreja de São João Batista - Lagoa do Barro, Araripina PE

mãos que partilham histórias. Minha vozinha e eu

a flor do mandacaru enfeitando a vereda

no sítio Tigre, a Capela de Santa Terezinha

Fortaleza do Sertão

um dos símbolos da casa de vozinha

sábado, 23 de dezembro de 2023

Rio de Afeto

Qual o significado de Rio de Afeto? Enviaram essa pergunta no comentário de uma foto que publiquei quando viajei para o Rio na companhia do meu caçula. A resposta está no retrato de amor exalado para além da imagem. Tem sensações que jamais conseguiremos explicar, apenas sentir, dessas coisas indizíveis carregadas de profundidade e que marcam nossas vidas.

Viajamos em setembro, na chegada da primavera com onda de calor. O Rio nos recebeu mais uma vez com abraços fraternos, encontros alegres, diálogos nutritivos, riso e o afeto de estar juntos com gente de sintonia elevada. Dos presentes cariocas que levo para todos os caminhos que eu cruzar. Dani, Tassa e Maria, adoramos estar e sentir a presença de vocês em 2023. Retornar ao RJ já está no horizonte das viagens de 2024. Um xero e feliz Natal.

Sou muito grata pelos laços que vou tecendo na minha estrada de saudades.

Sintonia refinada de amor: tia Dani e Arthur

Admirável Tia Tassa, te amamos

os primos, Maria e Arthur, ouh lindezas.

O Presente eterno

Houve um tempo que atuei em dois projetos de educação ambiental e formação de jovens em Osasco. Os encontros semanais aconteceram nas salas ...